Quem aqui já foi em uma praia e viu aquele amontoado de algas na faixa de areia ou flutuando no mar quando vamos dar aquele mergulho? 🧐🤓😎
Essas algas são chamadas de “arribadas”, também conhecidas como “sargaço”, muito comuns em diversas praias do nosso litoral, assim como em outros locais, como Flórida e México. Essas algas se desprendem naturalmente dos seus substratos por ação do hidrodinamismo, correntes e ventos e, na maré baixa, elas se acumulam na faixa de areia. As algas mais comuns encontradas como arribadas geralmente são as algas vermelhas dos gêneros Gracilaria Greville, Cryptonemia J. Agardh, Hypnea J.V. Lamouroux e Alsidium C. Agardh, bem como as algas pardas Dictyopteris J.V. Lamouroux, Padina Adanson e Sargassum C. Agardh e algas verdes do gênero Caulerpa J.V. Lamouorux. Elas podem ser encontradas com o talo inteiro, desprendido com seu apressório, ou como pequenos fragmentos.
Também existem algas que ocorrem naturalmente livres do substrato (espécies pelágicas), como as espécies de algas pardas Sargassum fluitans (Borgesen) Borgesen e S. natans (Linnaeus) Gaillon. Pelo nome dessas algas já dá para perceber, né?? Em 2011, uma mancha de algas pardas foi observada ocorrendo entre os Estados do Amapá e Pará e, em 2012, pesquisadores da UFRJ descobriram que se tratava da espécie Sargassum natans (Széchy et al. 2012). Mais recentemente, uma alta biomassa de Sargassum arribado no Brasil (Pará, Maranhão, Atol das Rocas, Arquipélago de São Pedro e São Paulo e Fernando de Noronha) foi registrada por Sissini et al. (2017).
E qual a importância dessas algas?
Elas fornecem habitat para novos organismos, servindo de berçários ou refúgios para peixes 🐠🐟, invertebrados 🦐🦀 e, até mesmo, microalgas e cianobactérias, contribuindo assim para aumentar a diversidade estrutural e funcional dos ecossistemas, além de servirem como alimento para herbívoros.
As algas arribadas são também importantes para os pesquisadores que estudam a biodiversidade marinha, pois podemos encontrar espécies de ocorrência rara, que são consideradas restritas ao infralitoral – aquela região que nunca fica descoberta durante a maré baixa! Por exemplo, a espécie Calliblepharis jolyi E.C. Oliveira é endêmica do nosso litoral, ou seja, só ocorre no Brasil e geralmente é encontrada como arribada (Mais detalhes sobre a taxonomia dessa espécie podem ser encontrados em Soares & Fujii 2020).
Mas nem tudo são flores 😩!! Quando ocorrem em grandes extensões e por longos períodos de tempo, essas grandes massas de macroalgas podem, por exemplo, inibir a atividade fotossintética do microfitobentos devido ao sombreamento 😵. Além disso, podem atuar como meio de transporte para espécies exóticas e outras espécies oportunistas.
A ocorrência de algas arribadas também pode ser devido às atividades antrópicas (p. ex. eutrofização). Em áreas muito urbanizadas, espécies oportunistas, principalmente do gênero Ulva Linnaeus, proliferam em excesso e, eventualmente, acabam se soltando do substrato e se acumulando na faixa litorânea. Esse fenômeno é muitas vezes chamado de maré verde e alguns casos já foram registrados no litoral de Pernambuco. Quer saber mais? Confere as reportagens sobre essas algas em Recife e Olinda.
Apesar dessas algas demostrarem ter um aproveitamento econômico e biotecnológico, elas acabam sendo recolhidas pelas prefeituras das cidades onde ocorrem, devido ao mau cheiro 😷🥴 causado pela decomposição por microorganismos, o que acaba inibindo a visita de turistas.
O potencial das algas arribadas está relacionado principalmente ao seu uso como fertilizantes na agricultura, devido às altas concentrações de N e P nessas algas. São interessantes também em atividades de educação ambiental, por exemplo, utilizando a compostagem pelas comunidades locais e até, remoção de metais pesados.
As mudanças climáticas 🔥🌪️☀️❄️🌡️, alterações nos regimes de chuvas ⛈️ e na concentração de nutrientes oriundos da agricultura 🌾 são apontados como eventos intensificadores da ocorrência de algas arribadas. Mas ainda faltam estudos de monitoramento, para avaliar a origem, causas e a sazonalidade das algas arribadas 🕵🏽♀️👩🏼💻👩🏻🔬.
Quer saber ainda mais?
Arroyo, N. L. & E. Bonsdorff. 2016. The role of drifting algae for marine biodiversity. In: E. Olafsson (ed.): Marine Macrophytes as Foundation Species. CRC Press, Taylor & Francis Group. 285 pp.
Por: Luanda Soares